A Febre do Poker

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Após várias pessoas terem falado da reportagem que deu na Sic, decidi procurar no google e ver a mesma, fica aqui para quem ainda não viu:
Ontem estive a falar com a minha avó ao telefone, que é uma Senhora na casa dos 80 e ela esteve-me a dizer que tinha falado com outras pessoas sobre a reportagem e o que ela lhes disse foi que eu não tenho problemas de jogo e que faço um horário igual de trabalho diariamente, acrescentando ainda “se ele não ganhasse mais no poker, já tinha arranjado um trabalho normal”. Para os leitores mais novos isto pode parecer um pouco irrelevante, mas eu não esperava tanta compreensão em relação ao que eu faço da parte da minha Avó. É uma geração que regra geral simplesmente associa “o jogo” a uma conotação negativa, derivada de más experiências próprias ou de familiares ou amigos no passado.
Nos últimos meses a minha vida mudou um pouco e passei a ter mais responsabilidades, já que basicamente sou a cara do Magic: The Gathering em Portugal e uma das caras da PokerStars. Como tal, tenho tido algum cuidado com a forma como abordo certos temas e alguns acabo até por evitar. Depois de ver aquela reportagem, perguntei-me a mim mesmo “será que tinha sido bom eu ter aparecido nela?”. No final de Dezembro tinham-me perguntado se estaria disponível para a mesma e eu disse até que dia estava em Portugal e que estaria disponível até essa data, mas não fui posteriormente contactado.
Desde que tenho jogado Poker profissionalmente, que tenho sido bastante organizado a nível de horário de trabalho, estudo e felizmente consegui ter uma fonte de rendimentos sólida e estável. Também convém mencionar, que não desisti de nenhum curso, eu terminei a minha licenciatura e só depois comecei a jogar fulltime e acreditem que aquelas últimas cadeira do curso são um pesadelo, especialmente quando achamos que não vamos usar o curso para nada, mas é sempre melhor ter uma garantia e é muito melhor aceite pela sociedade, já que cria uma ancora. Atenção que eu não estou a julgar ninguém e entendo perfeitamente quem tomou decisões diferentes da minha, a imagem que apareceu na Sic é que foi de jovens com intelectos a cima da média, que andam a desperdiçar o seu potencial a jogar jogos de cartas a dinheiro nas Bahamas e na Internet. Alguns ganham, outros perdem, mas “estão todos perdidos”… Uma pergunta importante nesta altura é… “A quem interessa passar esta imagem?”. A certa altura surge esta frase na reportagem “encomendado pela Santa Casa da Misericórdia”, que é a entidade que a par com os casinos tem o monopólio do jogo legal em Portugal.
#1: Acho que jovens com menos de 18 anos não devem poder jogar a dinheiro online, claro que todos os leitores com menos de 18 anos vão discordar, mas há coisas mais importantes que o poker nessa idade e não existe maturidade para gerir certas situações. Eu comecei a jogar poker com 19 anos e agora tenho 23 anos.
#2: As pessoas que não têm dinheiro para arriscar no Poker não devem jogar, ou devem só jogar freerolls. Assim como acho que quem não tem dinheiro para comprar um carro ou uma casa, não se deve endividar com empréstimos, caso não tenha a certeza que os consiga pagar. Eu moro num apartamento alugado, onde pago renda mensalmente e não tenho carro. No entanto, não devo dinheiro a ninguém e isso para mim é o mais importante.
#3: Quem está a pensar em largar um emprego para jogar Poker a tempo inteiro, na minha opinião já deve conseguir ganhar mais dinheiro a jogar Poker em part-time, do que no emprego durante um ano antes de tomar essa decisão.
Estes 3 pontos são importantes. De resto, o Poker pode ser um jogo saudável que proporciona um convívio saudável, tal como uma possível fonte de rendimentos estável. O que recomendo é que as pessoas sejam muito honestas consigo próprias em relação ao que pretendem do Poker e que mantenham-se nessa linha de pensamentos.